domingo, 18 de março de 2012

Outro belo soneto sem rima - Sonetos da Pergunta - de Guilhermino César (enviado por Moacir Xavier em 05 de março de 2012)




I
Memória é servidão desinibida,
posta a sorrir ao não e ao sim, ao mesmo
e ao talvez; é uma corrente esquiva:
tira do escuro o claro que se vê.

Sem pecúlio de amor, perdidos muitos
e muitos remos, sinto-me afogar
numa fluidez de treva e de incerteza,
joguete fatigado do possível.

Sozinho na procura esvai-se o rumo,
a firmeza que sonho ao me acabar
em cada gesto, em cada pensamento,

e só assim consigo ser eu mesmo
e só assim me basto ao meu sustento:
morto, a sonhar o renascer em vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário